Todo jornalista corre atrás
de boas histórias. É o que nos move. Pois bem. Tenho uma linda história para
contar. Num belo dia, durante a checagem dos meus e-mails recebi um release que
numa primeira leitura não saía do óbvio. Um balanço de atendimentos a pessoas
com deficiência física no estado. Legal! O balanço por si só não valeria uma
reportagem. O release já tinha feito isso.
Decidi procurar histórias.
No processo de apuração, fui conhecer o Centro de Reabilitação Dom Aquino
Correa, de Cuiabá, que atende muita gente com deficiência, não apenas de Mato
Grosso, mas de outros estados vizinhos. Entre tantas histórias, rostos e
dramas, uma menina de um sorriso vibrante e de agilidade incrível me chamou a
atenção. Dentro de mim veio a confirmação. Tenho a minha história!
Estava com
sorte. Entrevistar criança não é tarefa fácil. No começo, de mil perguntas, a
pequena respondeu duas, três coisas. Mas continuei insistindo. Até que a
vergonha e o medo foram embora e ela se apresentou. Meu nome é Fátima e tenho
um sonho. Eu perguntei: Qual é seu sonho? Ela disparou: “Quero subir em árvores”.
Nesse momento, perdi as palavras e o rumo da entrevista.
Para crianças comuns, subir
em árvores beira a rotina. Para Fátima não. Sem as duas pernas, a pequena, na
ocasião da primeira entrevista, usava próteses inteiriças e pesadas. Era
difícil acreditar que ela se equilibrava com tanta desenvoltura. A pequena
conseguia até correr. A levei para um parquinho. Ela tirou de letra!
Meses se passaram e Fátima
trocou as velhas próteses. Ganhou mais 10 cm de altura e flexibilidade. No
segundo encontro com a pequena, conheci a casa dela. Um lar aconchegante e de
muito amor. Fátima foi criada sem tabus. Sabe que tem limitações, mas que podem
ser superadas. Mais solta na segunda entrevista ela me contou um segredo. “Você sabia que eu subi numa árvore? Eu estarrecido, não acreditei e
perguntei: Como assim?
Ela pegou no meu braço e me levou para o quintal da casa. Lá estavam caídos dois mamoeiros. Ela empilhou tijolos e subiu nas duas
árvores. Com o peso do corpo dela, as duas árvores caíram no chão. Fátima realizou um sonho. Custei a
imaginar a cena. Terminei a entrevista mexido, mas firme.
Em histórias como
essa o envolvimento além do necessário é um risco. Fiquei feliz em conhecer
esse grande ser chamado Fátima. Tenho, inclusive, uma carta escrita por ela.
Conhecê-la fez repensar a minha própria vida. Nada é por
acaso. Até a próxima, Fátima!
Obs: Jornalismo se faz na curiosidade. Depois de conhecer a história da Fátima passei a ter um outro olhar em releases, comunicados e afins. Mesmo diante de assuntos chatos e sem nexo, com esforço, dá para produzir notícias e boas histórias. É preciso disposição e faro jornalístico.
Ótima história! Sensibilidade e faro jornalístico aguçadíssimos. Parabéns, Dhiego!
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