domingo, 12 de agosto de 2012

A invasão das onomatopeias: Salve-se quem puder!


As onomatopeias tomaram conta do catálogo da música brasileira. Não adianta tapar os ouvidos porque todas as músicas vêm com um item de fábrica infalível: os refrões-chiclete que são de cortar os pulsos. O cancioneiro popularesco é amplo, mas cito refrões de duas canções de maior sucesso no momento. É espantosa a inventividade presente nas letras: “Eu quero tchu, eu quero tcha” e “Ai ai ai, assim você mata o papai” e por aí vai.

Todas elas no top 10 das músicas mais tocadas em rádios país afora - esse estilo musical – reverbera um fenômeno social recente que é a ascensão da classe C no país. Além de eletrônicos, casas, carros, a nova classe C também é famigerada por música, dita, popular. E quanto mais no interior você estiver, mais latente é o fenômeno.

Recentemente fiz uma viagem até a divisa de Mato Grosso com o Pará, mais precisamente, à cidade de Guarantã do Norte. No trajeto, esgotei o repertório das músicas contidas no meu pendrive e decidi - conjuntamente com a minha irmã e cunhado - ouvir rádio. Foi uma tristeza! Perdi as contas de quantos tchus e tchás ouvi. Ah, não posso esquecer do fenômeno mundial da música brasileira encarnada por Teló. O “Nossa, nossa, assim você me mata” ainda não foi engavetado.

Mas será que a classe C já ouviu falar em Lenine, Elis Regina, Cartola, Gonzaguinha, Nara Leão, Tom Jobim e Vinícius de Moraes? Ela não é tão burra assim para querer só as onomatopeias. Talvez o que ainda falta é o primeiro contato com artistas de verdade que desestruturam a gente por completo em apenas um acorde. 

Lembro-me claramente do primeiro contato que tive com o repertório da Elis. Era moleque, tinha 12 anos. Naquela época já ouvia Legião Urbana, Cazuza, Titãs. Fiquei hipnotizado com a voz e a interpretação da Pimentinha. Depois de Elis, fui correndo ao trabalho do Chico Buarque, Milton Nascimento. Fui salvo das onomatopeias. Mas antes do primeiro contato, confesso que, por total ignorância, achava o trabalho desses monstros da música popular brasileira uma idiotice. Ufa!

Mas como jornalista, não dá para tapar os ouvidos e fingir que nada está acontecendo. Se o fenômeno está ali na sua cara, o seu dever é o de simplesmente registrá-lo e, ao final, procurar respostas para tanta adesão. O problema é que a imprensa também massifica e coloca muito fermento na massa, quando não deveria. 

E não há limites para o pior. A tendência é a consolidação desse tipo de repertório nos próximos anos. A saída será o consumo de músicas do circuito 'underground' lançadas por artistas seletos para públicos mais seletos ainda.

Se estivesse por aqui o trio Elis, Tom e Vinícius daria risada do cenário musical vigente que não se sustenta e, tampouco, emociona. Uma pena!

Um comentário:

  1. Grande Dhiego. O problema não é a onomatopeia. Antes eu pensava que uma boa música precisava ter não apenas uma bela melodia, mas também uma mensagem. Hoje já não penso assim. Música também é para diversão: ouvir e pronto. O problema, ao meu ver, são os modismos e a saturação. E essas músicas são repetidas tão exaustivamente que não saem mais da cabeça. Isso irrita. O problema é sermos obrigados a ouvir o que não gostamos. Quem gosta, que ouça sozinho.

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