segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Gentileza gera Gentileza


O exercício da gentileza é um sacerdócio para alguns e penitência para outros. Confesso que não é nada fácil ser gentil em uma sociedade como aí está. Agradeça quando alguém lhe disser: ‘por favor e muito obrigado’. Pule de alegria se ouvir: ‘por gentileza’. Este último está cada vez mais escasso das relações sociais.

Uma das minhas tarefas diárias é conversar com muita gente pelo telefone. É daí que muitas pautas surgem. Se a grande parcela das pessoas liga para dar sugestões, outra parte da fatia está do outro lado da linha em busca de informação.

E nessa hora é preciso ter jogo de cintura. Ainda mais em meio à pauta que não vira, à pressão típica de uma redação, reuniões e tantas obrigações, às vezes, esclarecer dúvidas por telefone não é uma tarefa nada fácil. Exige paciência! Mas é incrível como a reação das pessoas muda quando o diálogo se estabelece e todas as atenções são devotas a ela. 

Muita gente ainda não confia na internet ou não se familiarizou com o meio. E por isso ainda usa o telefone para se informar. São pessoas de um tempo em que a confiança se materializava nas palavras. Que bom que essa geração ainda está por aí.

Não sou o mais gentil dos homens e nem o mais bruto deles. Respeito para ter o direito de ser respeitado. E assim ao final de toda uma dezena de ligações aprendi a dizer: ‘te agradeço’. Às vezes passo uma raiva danada com a pessoa do outro lado da linha, mas o ‘te agradeço’ não falta. E isso já me salvou. 

Certa vez fui muito mal tratado por uma assessora de imprensa. Estava à procura de dados para uma reportagem. Ela desconversou e gritou comigo. E sem eu querer saiu o ‘te agradeço’. Jamais queria ter dito aquilo, ainda mais, naquela situação. 

Minutos depois, desconcertada e com voz aveludada, a assessora retornou a ligação com todos os dados que tanto eu precisava. Eis o poder da gentileza que abre todas as portas.

Uma figura que não mais está entre nós pregou por onde andou o seguinte lema: ‘Gentileza gera Gentileza’. De traços messiânicos, cabelos compridos e corpo esguio, José Datrino se transformou no Profeta Gentileza. Ficou famoso por desenhos peculiares e palavras conclamando o respeito a todos nos viadutos do Rio de Janeiro. Chegou a ser enredo de escola de Samba. 

Li uma crônica, recentemente, sobre ele e fiquei fascinado com tamanho desprendimento. O profeta Gentileza largou tudo para propagar o respeito. Quem conviveu com o profeta diz que só uma coisa tirava José Datrino do sério: as roupas curtas das mulheres. Se ele fosse à praça Popular em Cuiabá teria um ataque. Melhor não!

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